X Ciclo de Debates em Bioética

16/09/2021 23:59

A Sociedade Brasileira de Bioética (Regional SC) com apoio do Nupebisc e o Nesfhis, realizou o X Ciclo de Debates em Bioética, com a temática: “O pano de fundo biopolítico da bioética”. O encontro teve como palestrante principal a professora Anna Quintanas Feixas da Universidade de Girona (Espanha). Também contou com os debatedores Maria Fernanda Vasquez (Colômbia) e Fernando Hellmann (Brasil).

 

Na palestra “O pano de fundo biopolítico da bioética” a professora Anna Quintanas nos propõe uma interseção entre a bioética global de Potter, a biopolítica e analítica do poder em Michel Foucault e a política do cuidado de Joan Tronto para pensar a maneira em que bioética pode se configurar em um espaço de reflexão democrática que permita entender os conflitos bioéticos alinhados as formas de governo e as relações de poder que se tecem entre os indivíduos. Mas também compreender que o “bios” não se reduz a uma visão etnocêntrica e antropocentrada sinão que deve considerar a vida em suas múltiplas formas de existência e as relações que se estabelecem entre elas. Na sua intervenção a professora faz uma leitura histórica, interseccional e situada e insiste no fato de que a bioética não pode desconsiderar as políticas de administração e gestão da vida, que hoje estão essencialmente vinculadas a uma racionalidade neoliberal.

Anna Quintanas  afirma que a bioética predominante costuma a ignorar o fundo biopolítico, correndos-e o risco de “ser acusada de superficialidade, no sentido de ficar na superfície e negar-se a olhar o que há debaixo do tapete”.

Quintanas é clara ao afirmar que o fundo biopolítico da bioética atual que é o neoliberalismo. Que, como disse Michel Foucault, é uma lógica que nos converte em “empresários de nós mesmos”. Um individualismo exacerbado pautado numa suposta liberdade é o pano de funda desta ideologia que acredita em uma meritocracia pura. Podemos pensar, como lembra Anna Quintanas a teoria relacional da liberdade conforme Joan Tronto. Somos sempre seres interdependentes que necessitamos aos demais assim como os demais necessitam de nós mesmo. Somos seres vulneráveis e interdependentes. A concepção de homem autônomo é uma ficção no campo do liberal. A autonomia é sempre relacional.

E neste sentido, como nos recorda a doutora Anna Quintanas, o sentido da bioética potteriana que une uma ética ambiental com uma ética social segue sendo útil atualmente, e, segundo a filósofa está em consonância com as correntes bioéticas que estão tendo lugar na América Latina pois constroem uma “outra bioética” que considere o pano de fundo biopolítico desde a “bioética de proteção”, (Miguel Kottow e Fermin Schramm), até a “bioética da intervenção” (Volnei Garrafa e Dora Porto).

Para assistir o encontro na íntegra acesse nosso canal do youtube aqui.